A extinção do pombo passageiro.
Segundo o ecólogo Jared Diamond
(Rosetta Stone) 171 espécies de aves extinguiram na história recente do homem.
A grande maioria são espécies insulares, pois alterações ambientais em ilhas
causam um desequilíbrio ambiental muito mais pronunciado que em área continental,
porém um caso recente do pombo passageiro (Ectopistes
migratorius) espécie continental chama atenção. E o motivo disto esta
descrito por David Quammen em seu livro “O canto do dodô”
“Há apenas dois séculos, os
pombos passageiros eram quase inimaginavelmente numerosos. Habitavam a metade
oriental da América do Norte e sua área de uso ia desde as grandes florestas
decíduas do litoral de Massachusetts até as grandes planícies a oeste, e do
norte do Mississipi até a Nova Escócia, no Canadá. Um curto espaço de tempo sua
população desabou de algo em torno de
3 bilhões para zero. Enquanto prosperou foi um estupendo sucesso
biológico. (...)
Os pombos passageiros eram
criaturas fantasticamente gregárias. Temos certeza disso, embora não saibamos
muito sobre seus hábitos. A evolução os compelira a uma estratégia de exagerada
convivência. Eles encontravam conforto e segurança contra ataques surpresa de
predadores e condições aprazíveis de acasalamento dentro das colônias tão
gigantescas e tão aglomeradas que seriam intoleráveis para outras espécies.
Alimentavam-se de plantas que ocorriam em grandes concentrações, mas eram
distribuídas de maneira não uniforme ao longo de sua área de uso, em clusters
não contínuos no tempo e no espaço. Uma farta provisão de frutos de Carvalho,
frutos de Faia e outros tipos de castanhas eram importantes, mas eles também
dependiam de chokeberries – pseudofruto de arbusto do gênero Aronia -, amoras, sabugos – fruto do
sabugueiro do Canadá – sementes de Bordos e Elmos, (...).
As aves viajavam em revoadas
imensas, que colocavam milhões de pares de olhos de atalaia atrás de fontes
copiosas de comida. Aninhavam em gigantescos “viveiros” que se estendiam por
até quinhentos quilômetros quadrados. Quando o grupo alçava voo, em busca de
alimento ou lugar para descansar, o céu literalmente escurecia.
Na Virgínia, por volta de 1614,
um homem referiu-se aos pombos “Além de qualquer número ou imaginação”,
acrescentando que “eu mesmo já presenciei revoadas que demoraram três ou quatro
horas para passar, tão espessas que obscureciam o céu” Um imigrante holandês em
Manhattan escreveu em 1625: “As aves mais comuns são os pombos silvestres; são
tão numerosos que não deixam passar a luz do sol.” Na Pensilvânia, um poema de
1729 incluía os versos.” No outono, aqui voam grandes bandos de pombos / Tão
numerosos que escurecem todo o céu”. Essa imagem é repetida com tanta
frequência nos registros históricos que parece uma fórmula passada de geração
em geração, até uma testemunha ocular lhe confere a força da realidade
observada. Um explorador francês chamado Bossu, ao chagar a Illinois por volta
de 1760, ficou impressionado com a visão de “nuvens de pombos, uma espécie de
pombo silvestre ou do mato. Algo que pode parecer incrível é que o sol chega a
ser obscurecido por eles”. Bossu também relatou que um caçador era capaz de
abater oitenta aves com um único tiro. Por volta de 1810, o ornitólogo
Alexander Wilson fez uma estimativa meticulosa, mas estonteante de que havia 2.230.272.000aves num único bando.
Consumo diário de alimento: 600 mil metros cúbicos de glandes. (Se
Wilson houvesse arredondado para baixo e dissesse “2 bilhões de pássaros”,
todos suporiam que se tratava de um flagrante exagero.) Mais ou menos na mesma
época, John James Audubon descreveu uma revoada que avistou cruzando, cruzando,
cruzando, cruzando sem parar os céus de Kentucky. “Os pombos continuam
roubando-me a luz do sol por três dias inteiros”, escreveu.
O declínio de abundância para
raridade parece ter ocorrido num piscar de olhos, talvez durante 1880. No
inicio da década, o Ectopistes
migratorius ainda aninhava em conclaves de vários milhões de pássaros, mas
em 1888 um bando de apenas 175 aves já se tornara digno de nota e os céus nunca
mais escureceram com pombos passageiros. O ultimo individuo silvestre
comprovado foi morto a tiros em Sargents, Ohio, em 24 de março de 1900. Depois
disso. A espécie só foi encontrada em zoológicos. O ultimo pombo passageiro
conhecido (afamado na história das extinções e agraciado com o nome próprio,
Martha) sobreviveu até 1914 no zoológico de Cincinnati. (...)
O livro de Schorger, The
passenger pigeon: its natural history and extincion (O pombo passageiro: sua
historia natural e extinção), um tratado historicamente completo ( mas hoje
cientificamente desatualizado) publicado em 1955 (...)
O mesmo gregarismo que ajudava os
pombos passageiros a se proteger dos predadores naturais também os tornou
particularmente vulneráveis aos seres humanos. Seu instinto de coesão social
era tão forte que milhares das aves podiam ser mortas antes que as demais se
assustassem. O massacre chegou ao ápice depois da guerra da Secessão, quando
falanges de caçadores profissionais saíram à cata dos grandes bandos. Eles
foram auxiliados pelo telegrafo (que permitia transmitir informações sobre
locais de nidificação) e pelas ferrovias (para transporte rápido das aves
abatidas) Os habitantes locais, não apenas os homens, mas famílias inteiras,
também participavam. As aves eram recolhidas como maças num pomar e centenas,
centenas acabavam apodrecendo no chão. “Caça” é na realidade uma palavra nobre
demais para uma carnificina tão estupida e metódica; embora colheita possa
parecer um eufemismo quando aplicado a uma espécie animal, talvez seja um termo
mais preciso. A colheita foi realizada com redes, alçapões, fumigação sulfúrica,
porretes, varas compridas e, é claro, armas de fogo. Uma família de
Massachusetts, usando varas para derrubar as aves do poleiro, matou 1200 numa
noite. Algumas arapucas eram capazes de prender mil aves por vez. Barris cheios
de pombos salgados ou congelados eram enviados para cidades do leste, onde cada
ave chegava a ser vendida por menos de cinco centavos de dólar. Quando havia
superabundância de oferta nos mercados urbanos, o preço caia ainda mais e os
pombos passageiros eram dados de graça ou transformados em ração para porcos.
Em 1878, pelo menos 1,1 milhão de
aves mortas numa área de nidificação perto de Petoskey, Michigan, foram
despachados para o mercado. Na década 1930, Etta S. Wilson, já idosa, recordou
dos eventos que testemunhara em menina numa outra área de nidificação em
Michigan: (...).
E a história vivida por Etta é
contada a seguir no livro, no entanto o trecho transcrito já nos dá ideia do
que significa a extinção.
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