SLOSS
Uma revolução na ciência
biológica se deu quando o proeminente matemático Robert MacArthur e o biólogo
especialista em formigas O. Wilson se juntaram para estudar a dinâmica da
biodiversidade em ilhas. Com auxílio da matemática e exaustivos trabalhos de campo
foi possível chegar a modelos matemáticos que previam e explicavam o
comportamento da ocupação, extinção e dinâmica da biodiversidade nas ilhas. Os
estudos foram realizados em várias ilhas pelo mundo afora.
Para se ter idéia da complexidade
dos estudos, minúsculas ilhas foram cobertas com lonas e fumigadas com brometo
de metila para que se desse cabo de todos os seres que a ocupavam.
Anteriormente, porém foram inventariadas as espécies que lá viviam. Após a
fumigação com gás mortal apenas as árvores permaneceram vivas. Iniciou-se o
levantamento das espécies que voltaram a ocupar a ilha onde foram medidas por
anos as taxas de ocupação. Levantados os dados as equações e gráficos eram
montadas e novamente testado o modelo em campo. Assim estabeleceu-se um padrão
que fez com que a nova ciência da biogeografia fosse conhecida pelos seus
padrões tais como: Tamanho X diversidade / Proximidade entre ilhas X
diversidade / Formato X Diversidade, Turnover etc.
Logo se percebeu que o efeito de
ilhas não se daria apenas em ilhas propriamente ditas perdidas no oceano. Um
fragmento florestal cercado por soja também deveria ter os mesmos padrões
propostos por MacArthur e Wilson? Assim o conceito de insularidade ampliou-se
para qualquer ambiente que por algum motivo estivesse isolado da porção maior.
Eu estava estudando isso quando
um sobrinho me falou que iria morar em uma ilha isolada que não acompanharia a
“manada”, pois assim estaria resguardado da destruição ambiental. Pensei será?
Que tamanho terá essa ilha? Ironicamente ainda pensei no Turnover (Será que
quando ele entrar nesta ilha alguém sairá?). E será que o homem moderno ainda
permite ambiente equilibrado?
Diamont Jared ecólogo dos mais
proeminentes lançou um livro: “The island dilemma; Lessons of modern biogeographic
studies for the desing of natural reserves“ (O dilema das ilhas; Lições de
estudos biogeográficos modernos para o delineamento de reservas naturais)
Segundo Dianmond já que a teoria
do equilíbrio das ilhas estava dominada seria uma importante ferramenta para
demarcar os limites das reserva e parque naturais. Poderíamos saber que tamanho
a preservar para se manter o equilíbrio da biodiversidade. Depois de toda sua
argumentação lógica a conclusão que chegou foi de que:
· Uma Reserva grande pode abrigar mais
espécies em equilíbrio do que uma reserva pequena.
· Uma reserva localizada próxima de
outras reservas pode abrigar mais espécies do que reserva remota.
· Um grupo de reservas tenuamente
ligadas entre si – ou pelo menos, proximamente agrupadas – poderá abrigar mais
espécies do que um grupo de reservas separadas ou ordenadas em linha reta.
(Olha ai a importância dos corredores ecológicos)
· Uma reserva redonda conterá mais
espécies que uma alongada.
Estes princípios foram
apresentados também graficamente e deram o que falar no mundo científico. A
conceituada revista “Nature” publicou vários artigos de cientistas
especializados a favor e contra os princípios propostos principalmente no mais
controverso, pois graficamente Diamond mostrava que quatro pequenas ilhas era
piores (em termos de diversidade) que uma grande ilha com o mesmo tamanho da
soma das quatro.
Assim nasceu a sigla: SLOSS
(“single large or several small”) – Uma grande ou várias pequenas.
O debate SLOSS é duplamente
interessante:
1 – Qual a estratégia ideal para
projetar reservas naturais?
2 – O que diz a teoria do
equilíbrio sobre a estratégia ideal para projetar reservas naturais?
Os argumentos de um lado e outro
quanto ser uma maior em detrimento de várias pequenas era acalorado e deixam
duvidas:
Várias pequenas poderiam oferecer
proteção a alguma catástrofe qualquer, como um invasor predador, um incêndio
florestal, um vulcão. Ocorrendo em uma não necessariamente ocorreriam em todas.
Assim se tais catástrofes ocorressem em uma única reserva grande poderia
erradicar populações inteiras. O lema era: “Não coloque todos os seus ovos em
uma única cesta”
Já a argumentação do outro lado
dizia que uma grande reserva protegeria seu interior com mais segurança enquanto
as várias pequenas sofreriam mais interferência em suas fronteiras. Uma grande
reserva seria também mais protetiva a grandes predadores e etc.
Chegou a alguma conclusão? Tem
assunto neste SLOSS para dar com pau,
Nossas reservas quando são
demarcadas levam prioritariamente outros aspectos que não os princípios
científicos tais como: Recurso financeiro, oportunidade, política de governo
etc...
Assim fica ainda mais evidente
que a política de corredores ecológicos deveria ser a política legal de maior
importância em detrimento a reservas legais ilhadas. Também se desenvolve o
conceito de conservacionismo comunitário onde a conservação não se deve
restringir a parques e unidades legalmente estabelecidas, mas também na
paisagem rural, uma vez que apenas 4% das áreas do planeta estão protegidas
legalmente. Assunto para outra vez...
O pensamento mais avançado direciona
a demarcação de reservas a viabilidade populacional e espécies chaves, isto é:
Espécies chaves são aquelas cruciais para preservar a coexistência de uma
comunidade ecológica ao longo do tempo.
Lógico esse assunto não acaba
aqui tem muitas outras histórias para contar incluindo o decaimento ambiental.
Também assunto para outra vez...
Voltando ao meu sobrinho, esse texto
é um recado para que ele leia e não se esqueça de me levar junto para essa ilha
tão sonhada e equilibrada. E seria grande ou pequena?
Estou aguardando!
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