quinta-feira, 8 de outubro de 2015


SLOSS

Uma revolução na ciência biológica se deu quando o proeminente matemático Robert MacArthur e o biólogo especialista em formigas O. Wilson se juntaram para estudar a dinâmica da biodiversidade em ilhas. Com auxílio da matemática e exaustivos trabalhos de campo foi possível chegar a modelos matemáticos que previam e explicavam o comportamento da ocupação, extinção e dinâmica da biodiversidade nas ilhas. Os estudos foram realizados em várias ilhas pelo mundo afora.
Para se ter idéia da complexidade dos estudos, minúsculas ilhas foram cobertas com lonas e fumigadas com brometo de metila para que se desse cabo de todos os seres que a ocupavam. Anteriormente, porém foram inventariadas as espécies que lá viviam. Após a fumigação com gás mortal apenas as árvores permaneceram vivas. Iniciou-se o levantamento das espécies que voltaram a ocupar a ilha onde foram medidas por anos as taxas de ocupação. Levantados os dados as equações e gráficos eram montadas e novamente testado o modelo em campo. Assim estabeleceu-se um padrão que fez com que a nova ciência da biogeografia fosse conhecida pelos seus padrões tais como: Tamanho X diversidade / Proximidade entre ilhas X diversidade / Formato X Diversidade, Turnover etc.
Logo se percebeu que o efeito de ilhas não se daria apenas em ilhas propriamente ditas perdidas no oceano. Um fragmento florestal cercado por soja também deveria ter os mesmos padrões propostos por MacArthur e Wilson? Assim o conceito de insularidade ampliou-se para qualquer ambiente que por algum motivo estivesse isolado da porção maior.
Eu estava estudando isso quando um sobrinho me falou que iria morar em uma ilha isolada que não acompanharia a “manada”, pois assim estaria resguardado da destruição ambiental. Pensei será? Que tamanho terá essa ilha? Ironicamente ainda pensei no Turnover (Será que quando ele entrar nesta ilha alguém sairá?). E será que o homem moderno ainda permite ambiente equilibrado?
Diamont Jared ecólogo dos mais proeminentes lançou um livro: “The island dilemma; Lessons of modern biogeographic studies for the desing of natural reserves“ (O dilema das ilhas; Lições de estudos biogeográficos modernos para o delineamento de reservas naturais)
Segundo Dianmond já que a teoria do equilíbrio das ilhas estava dominada seria uma importante ferramenta para demarcar os limites das reserva e parque naturais. Poderíamos saber que tamanho a preservar para se manter o equilíbrio da biodiversidade. Depois de toda sua argumentação lógica a conclusão que chegou foi de que:
·         Uma Reserva grande pode abrigar mais espécies em equilíbrio do que uma reserva pequena.
·         Uma reserva localizada próxima de outras reservas pode abrigar mais espécies do que reserva remota.
·         Um grupo de reservas tenuamente ligadas entre si – ou pelo menos, proximamente agrupadas – poderá abrigar mais espécies do que um grupo de reservas separadas ou ordenadas em linha reta. (Olha ai a importância dos corredores ecológicos)
·         Uma reserva redonda conterá mais espécies que uma alongada.

Estes princípios foram apresentados também graficamente e deram o que falar no mundo científico. A conceituada revista “Nature” publicou vários artigos de cientistas especializados a favor e contra os princípios propostos principalmente no mais controverso, pois graficamente Diamond mostrava que quatro pequenas ilhas era piores (em termos de diversidade) que uma grande ilha com o mesmo tamanho da soma das quatro.
Assim nasceu a sigla: SLOSS (“single large or several small”) – Uma grande ou várias pequenas.
O debate SLOSS é duplamente interessante:
1 – Qual a estratégia ideal para projetar reservas naturais?
2 – O que diz a teoria do equilíbrio sobre a estratégia ideal para projetar reservas naturais?
Os argumentos de um lado e outro quanto ser uma maior em detrimento de várias pequenas era acalorado e deixam duvidas:
Várias pequenas poderiam oferecer proteção a alguma catástrofe qualquer, como um invasor predador, um incêndio florestal, um vulcão. Ocorrendo em uma não necessariamente ocorreriam em todas. Assim se tais catástrofes ocorressem em uma única reserva grande poderia erradicar populações inteiras. O lema era: “Não coloque todos os seus ovos em uma única cesta”
Já a argumentação do outro lado dizia que uma grande reserva protegeria seu interior com mais segurança enquanto as várias pequenas sofreriam mais interferência em suas fronteiras. Uma grande reserva seria também mais protetiva a grandes predadores e etc.
Chegou a alguma conclusão? Tem assunto neste SLOSS para dar com pau,
Nossas reservas quando são demarcadas levam prioritariamente outros aspectos que não os princípios científicos tais como: Recurso financeiro, oportunidade, política de governo etc...
Assim fica ainda mais evidente que a política de corredores ecológicos deveria ser a política legal de maior importância em detrimento a reservas legais ilhadas. Também se desenvolve o conceito de conservacionismo comunitário onde a conservação não se deve restringir a parques e unidades legalmente estabelecidas, mas também na paisagem rural, uma vez que apenas 4% das áreas do planeta estão protegidas legalmente. Assunto para outra vez...
O pensamento mais avançado direciona a demarcação de reservas a viabilidade populacional e espécies chaves, isto é: Espécies chaves são aquelas cruciais para preservar a coexistência de uma comunidade ecológica ao longo do tempo.
Lógico esse assunto não acaba aqui tem muitas outras histórias para contar incluindo o decaimento ambiental. Também assunto para outra vez...
Voltando ao meu sobrinho, esse texto é um recado para que ele leia e não se esqueça de me levar junto para essa ilha tão sonhada e equilibrada. E seria grande ou pequena?
Estou aguardando!


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